Petista histórico e famoso por ser político pragmático, Vander Luiz dos Santos Loubet, 61 anos, é a principal esperança do PT de voltar ao Senado dez anos após a cassação do senador Delcídio do Amaral. Na Câmara dos Deputados há 23 anos, cumprindo o 6º mandato consecutivo de deputado federal e responsável por R$ 5 bilhões em emendas, Vander, como é mais conhecido, planeja ser o senador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para garantir a governabilidade do petista, em caso de reeleição, e evitar o avanço das pautas da direita, como anistia e impeachment de ministros do STF.
Natural de Porto Murtinho, como o tio, o ex-governador Zeca do PT, ele deixou a cidade aos 14 anos para cursar o ensino médio em Cuiabá (MT) e acabou concluindo em Campo Grande. Cursou Direito na FUCMAT, atual Universidade Católica Dom Bosco, e foi bancário por seis anos antes de se dedicar integralmente à política.
Ao longo de quatro décadas do PT, Vander exerceu todas as funções no partido, como secretário, tesoureiro e presidente dos diretórios municipal e regional. Atualmente, ele é o presidente estadual do PT e vai organizar o partido para as eleições de 2026.
Desde 1981, quando participou da criação do Partido dos Trabalhadores, Vander viveu todas as fases do partido em Mato Grosso do Sul, desde o lançamento do primeiro candidato a governador para marcar posição até os tempos de glória, quando o partido chegou ao comando do Estado e à presidência da República por quatro eleições consecutivas.
Sempre foi coordenador das campanhas do tio. Em 1992, quando Zeca do PT foi candidato a prefeito da Capital pela primeira vez, eles ficaram a 1,5 ponto percentual da vaga no segundo turno, que ficou entre Marilu Guimarães (PFL) e Juvêncio César da Fonseca (MDB). O emedebista venceu.
Quatro anos depois, a derrota mais sofrida. Zeca venceu no primeiro turno, mas perdeu o segundo para André Puccinelli (MDB) por apenas 411 votos em um pleito polêmico e marcado por denúncias de compra de votos. “O Zeca começou a campanha com 1% e o André com 2%. O nosso estúdio era uma Kombi, tudo era feito na base do improviso”, relembra o deputado.
Na época, os favoritos a ganhar eram o então senador Levi Dias (PDS), o deputado federal Nelson Trad (PTB) e o médico Alberto Rondon – que ainda não tinha ganhado a fama de dublê de cirurgião plástico que mutilou centenas de mulheres. “Achamos o mote da campanha, funcionava o setorial e tínhamos menos gente”, conta.
Dois anos depois, por pouco, Zeca do PT não foi lançado ao Governo. Lula veio ao Estado para convencer o petista a abrir mão da vaga de governador para ser candidato a deputado federal e ajuda-lo na Câmara dos Deputados. O apelo do petista não surtiu efeito, Zeca foi candidato e ganhou a eleição. “O povo de Campo Grande ficou com uma dívida com o Zeca e ele soube interpretar isso”, avalia Vander.
Milagre da governabilidade
Aos 33 anos, Vander acabou assumindo a Secretaria Estadual de Governo e foi estratégico em garantir a governabilidade de Zeca do PT. Dos 24 deputados estaduais, apenas três eram da base do Governo. Além disso, a gestão petista herdou sete folhas de pagamento atrasadas, arrecadação de ICMS em baixa e o êxodo do gado, que era abatido em outros estados.
Com o pragmatismo de Vander, Zeca conseguiu aprovar o polêmico Fundersul (Fundo de Desenvolvimento Rodoviário), odiado pelos produtores rurais. O autor da ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal foi o então presidente da Famasul, Eduardo Riedel (PP), atual governador. O fundo foi considerado constitucional 13 anos depois.
O Fundersul deu visibilidade ao Governo petista, que conseguiu recuperar as rodovias pavimentadas e interligar com asfalto 16 das 18 cidades sem pavimentação em 1998. Vander ainda citou como pilar do desenvolvimento o FIS (Fundo de Investimento Social), que garantiu a renda mínima para 90 mil famílias na época, e os fundos culturais (FIC) e esportivo (FIE).
Vander ainda foi secretário estadual de Obras na época em que houve a conclusão da maior parte das obras deixadas por Pedro Pedrossian, que não foram concluídas por Wilson Barbosa Martins (MDB).
A experiência lhe credenciou a disputar um cargo eletivo pela primeira vez. Loubet deixou os bastidores, onde atuou como coordenador de campanhas, para buscar o voto. Ele lembra que teve incentivo de um dos magos da política regional, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas, João Leite Schmidt. Ele o teria definido como “visionário” e “sonhador”. “Ele dizia que quem passou pela Casa Civil não pode ficar sem mandato”, relembrou.
Frustrações e Lava Jato
Vander acumulou duas derrotas como candidato a prefeito de Campo Grande em 2004 e 2012. “Eu gostaria de ir para o executivo, unir gestão e política”, admite, sobre uma das frustrações da carreira política exitosa.
Como deputado federal, Vander destaca que o mais importante é a atividade institucional como parlamentar, na fiscalização e apresentação de projetos. Em segundo, ele destaca a boa relação com os movimentos sociais e sindicatos. Em terceiro lugar, a relação com o PT.
A fama de pragmático está na liberação de emendas para os municípios e o Estado de Mato Grosso do Sul ao longo dos seis mandatos. Apesar da carreira no PT, ele contemplou prefeitos de todos os partidos e correntes ideológicas. Na ponta do lápis, foram liberadas R$ 4.952.112.072,92 em emendas, sem atualizar os valores pela inflação.
“Sei que passei por perrengues, momentos de glória e dificuldades no PT”, destaca. O momento mais difícil na carreira foi a Operação Lava Jato, a maior ofensiva contra a corrupção no País, mas que se transformou em um tsunami para o PT. Vander foi acusado de receber propina de R$ 1 milhão e integrar a organização criminosa do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
“Não tem problema em ser fiscalizado pelo STF. Sempre respeitei”, ponderou, sobre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal na ocasião. Ele teve os bens bloqueados e virou réu por corrupção passiva.
No entanto, Vander detona a acusação de Rodrigo Janot, então chefe do MPF. “Foi um delírio do procurador-geral. Nunca tive com o Collor de Mello. Não era do meu convívio”, destaca, sobre serem de ideologias tão díspares “Fizeram um Raio-X de cima para baixo”, lamentou, sobre o fato da Polícia Federal ter vasculhado sua vida, contas bancárias e sigilo em busca de evidências.
Na época, o deputado lembra que tem orgulho de nunca ter sido abandonado pela família e pelo partido. “Orgulho-me de ter sido absolvido por unanimidade”, gaba-se, sobre o fato do relator, o ministro Edson Fachin, famoso lavajatista e implacável com os denunciados na Lava Jato. O ministro votou pela absolvição e foi acompanhado pelos demais integrantes da turma.
“Nunca tive problema. Foi um momento difícil na vida, mas sempre andei de cabeça erguida. Nunca deixei de ir a um evento ou restaurante”, afirmou. Também nunca se furtou de andar em avião comercial para fugir de eventuais vaias. “Isso me fortaleceu, amadureceu muito”, conclui.
O SENADOR DO LULA
Sexagenário e político experiente, Vander acredita que chegou o momento de mudar de casa no Congresso Nacional. “É o meu momento de tentar o Senado, pela experiência adquirida e também pela oportunidade de ajudar o Lula em uma casa que será o foco das eleições de 2026”, afirma.
Desde a eleição de Delcídio em 2010, o PT não conseguiu eleger outro senador. Em 2014, o presidente da Cassems, Ricardo Ayache, estreante na política, ficou em 2º lugar, com 204.262 votos, só atrás da eleita, Simone Tebet (MDB).
Na eleição seguinte, o ex-governador Zeca do PT conquistou 294.059 votos, em 5º lugar, mas sofreu os efeitos da Lava Jato. O petista perdeu a vaga para Nelsinho Trad (PSD), que tinha o apoio do Governo do Estado e da prefeitura da Capital, e para Soraya Thronicke (Podemos), a senadora de Jair Bolsonaro.
Em 2022, o advogado Tiago Botelho (PT), estreante na política, ficou em 3º lugar, com 13,07% dos votos, atrás da senadora Tereza Cristiana (PP), que tinha o apoio de Bolsonaro e de três candidatos a governador (Eduardo Riedel, Capitão Contar e André Puccinelli).
Além da recuperação da imagem do PT, Vander aposta na força de Lula, que tem liderado as pesquisas nacionais e caminha para chegar forte na disputa pela reeleição. “Historicamente, o presidente sempre fez um senador”, pontua o deputado, citando as eleições de Wilson Barbosa Martins (em 94 com Fernando Henrique Cardoso), de Juvêncio César da Fonseca (em 98 também com FHC), de Delcídio do Amaral (com Lula em 2002), de Delcídio (novamente em 2010 com Dilma Rousseff), de Simone Tebet (em 2014 com Dilma Rousseff) e Soraya (em 2018 com Bolsonaro).
Além do histórico, Vander aposta na militância petista para ter os votos de Lula no Estado. Na última eleição, o presidente teve 40% dos votos em MS. Além disso, ele espera ter o apoio, mesmo que velado, de prefeitos das mais diferentes ideologias, como gratidão pelas obras viabilizadas por meio das emendas.
O deputado federal vai trabalhar pelo Senado até as convenções de 2026. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, pode ser candidata ao Senado com o apoio de Lula. No entanto, a emedebista ainda pode ser opção por São Paulo e deixar o caminho aberto para Vander tentar ser eleito o senador de Lula em Mato Grosso do Sul em 2026.
Fonte : O jacaré