Os ataques aéreos conduzidos pelos militares israelenses sobre Gaza já atingiram 5,3 mil prédios, destruíram completamente 790 residências e deixaram 610 mil pessoas sem abastecimento de água ou saneamento. 187 mil pessoas estão desabrigados e muitos estão sendo levados para mais de 80 locais da ONU, enquanto o abastecimento de energia apenas funciona entre três e quatro horas por dia.
Os dados estão sendo divulgados pelo Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA), na manhã desta terça-feira. A entidade ainda alerta que a água potável pode acabar em poucos dias e denuncia a morte de crianças. Para a entidade, a região é hoje "um barril de pólvora" preste a explodir e alerta que o cerco imposto por Israel é proibido.
Tanto a ONU como a OMS pedem a criação imediata de um corredor humanitário para permitir que remédios e alimentos possam chegar à população civil em Gaza.
Para a ONU, o cerco de Israel pode ser considerado como uma "punição coletiva", o que é proibido pelo direito internacional. Ou seja, um potencial crime de guerra se o alvo ou a estratégia não tiver um objetivo militar.
De acordo com a OMS, 13 centros de saúde foram atingidos em Gaza, deixando nove ambulâncias destruídas e seis trabalhadores mortos. Os abastecimentos de remédios nos hospitais se esgotaram e os centros de atendimento estão lotados.
No total, 18 prédios da ONU foram atingidos em Gaza. O temor dos organismos internacionais é de que a resposta israelense contra Gaza - com 2,2 milhões de habitantes - abra uma crise humanitária de proporções inéditas na região, que já vive um bloqueio por 16 anos.
No fim de semana, pelo menos 900 israelenses foram mortes, no pior momento já vivido por Israel em décadas. A morte de civis foi condenada por dezenas de países como "atos bárbaros" e "terroristas" por parte do Hamas.
Os ataques israelenses fazem parte da contraofensiva lançada pelo governo de Benjamin Netanyahu, que alertou que a ofensiva no sábado por parte do Hamas representou o seu 11 de Setembro, numa referência aos atos terroristas nos EUA. "Nada será como antes", afirmou a diplomacia israelense, em recente encontro do Conselho de Segurança da ONU.
O anúncio foi interpretado como um sinal de que, para Israel, o território inteiro de Gaza seria alvo de uma ofensiva e que o Hamas não teria onde se esconder. Para a diplomacia israelense, toda a infraestrutura do local é usada para a "máquina de terror" e, portanto, um alvo legítimo.
Mas, agora, o cerco imposto por Israel contra Gaza e os ataques contra o território palestinos levaram a ONU a criticar o comportamento do governo de Netanyahu, alertando que a resposta não poderia significar a morte de civis.
De acordo com a OMS, diversos hospitais foram atingidos pelos mísseis israelenses, enquanto outros se transformaram em locais provisórios para os corpos de dezenas de palestinos.
Nas escolas mantidas pela ONU na Faixa de Gaza, pelo menos 187 mil palestinos estão abrigados, depois que suas casas foram atingidas.
Eis o resumo do levantamento da ONU:
Nesta manhã, os ataques aéreos continuam a atingir Gaza, enquanto foguetes são lançados de Gaza para Israel, no quarto dia da escalada mortal em Israel e no Território Palestino Ocupado.
ONU continua extremamente alarmada com essa escalada rápida dos acontecimentos.
Até a noite de ontem, relatórios israelenses indicam que mais de 900 israelenses, incluindo estrangeiros, foram mortos. Pelo menos 2.616 pessoas ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde de Israel.Enquanto isso, de acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, pelo menos 687 palestinos foram mortos e 3.800 ficaram feridos. Outros 17 palestinos, incluindo quatro crianças, foram mortos e 295 ficaram feridos na Cisjordânia.
Os deslocamentos aumentaram drasticamente na Faixa de Gaza, chegando a mais de 187.500 desde sábado. A maioria está se abrigando em escolas da UNRWA. Esses novos deslocamentos se somam a cerca de 3.000 palestinos que foram deslocados em decorrência de escaladas anteriores. Espera-se que haja mais deslocamentos à medida que as hostilidades continuem.
Desde sábado, quatro escolas e oito instalações de saúde em Gaza sofreram danos.
A destruição da infraestrutura e das ruas dificultou a movimentação da defesa civil e das equipes médicas que tentam chegar às vítimas.
As instalações de saúde, água e saneamento também sofreram danos.
As autoridades israelenses interromperam o fornecimento de eletricidade à Faixa de Gaza, reduzindo as horas de eletricidade para 3 a 4 horas por dia. A Usina Elétrica de Gaza é atualmente a única fonte de energia e pode ficar sem combustível dentro de alguns dias.
As autoridades israelenses decidiram cortar o fornecimento de água para Gaza. Essa decisão afeta mais de 610.000 pessoas em Gaza e resultará em uma grave escassez de água potável.
Numa declaração emitida nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou o cerco estabelecido por Israel sobre Gaza e alertou para os ataques contra escolas e hospitais palestinos.
A declaração ocorreu depois de uma reunião extraordinária dos principais chefes das agências da ONU. Guterres deixou claro que condena os "ataques abomináveis do Hamas". Mas também denunciou o fato de que a resposta israelense vem ocorrendo contra civis.
Mas o chefe da ONU não deixou de mandar um recado ao governo israelense. "Embora eu reconheça as legítimas preocupações de segurança de Israel, também lembro a Israel que as operações militares devem ser conduzidas em estrita conformidade com o direito humanitário internacional", disse. "Os civis devem ser respeitados e protegidos em todos os momentos e infraestrutura civil nunca deve ser um alvo", disse.
Segundo ele, a ONU já tem relatos de mísseis israelenses "atingindo instalações de saúde dentro de Gaza, bem como torres residenciais de vários andares e uma mesquita". "Duas escolas que abrigavam famílias desabrigadas em Gaza também foram atingidas", afirmou..
"Estou profundamente angustiado com o anúncio de hoje de que Israel iniciará um cerco completo à Faixa de Gaza, não permitindo a entrada de nada - nem eletricidade, alimentos ou combustível", disse. "A situação humanitária em Gaza já era extremamente terrível antes dessas hostilidades; agora, ela só vai se deteriorar exponencialmente", alertou.
Barril de pólvora
Enquanto isso, o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, fez na terça-feira um apelo às potências para que tomem medidas para neutralizar a situação de "barril de pólvora" em Israel e Gaza. Para ele, a lei humanitária internacional e a lei internacional de direitos humanos devem ser respeitadas em todas as circunstâncias.
"Estamos enfrentando uma situação explosiva de barril de pólvora. Sabemos como isso acontece, repetidamente - a perda de vidas israelenses e palestinas e o sofrimento incalculável infligido a ambas as comunidades", disse Türk.
"Todas as partes devem respeitar o direito humanitário internacional. Elas devem cessar imediatamente os ataques que tenham como alvo civis e os ataques que possam causar mortes e ferimentos desproporcionais a civis ou danos a objetos civis."
O alto comissário disse estar "profundamente chocado e estarrecido com as alegações de execuções sumárias de civis e, em alguns casos, horríveis assassinatos em massa por membros de grupos armados palestinos".
"É horrível e profundamente angustiante ver imagens de pessoas capturadas por grupos armados palestinos sendo maltratadas, bem como relatos de assassinatos e profanação de seus corpos", disse ele. "Os civis nunca devem ser usados como moeda de troca".
Libertar reféns
O apelo da ONU também foi direcionado ao Hamas. "Eu peço aos grupos armados palestinos que libertem imediata e incondicionalmente todos os civis que foram capturados e que ainda estão presos. A tomada de reféns é proibida pelo direito internacional", disse o alto comissário.
Türk enfatizou que é de vital importância que todas as pessoas privadas de liberdade no Território Palestino Ocupado e em Israel sejam tratadas com humanidade. "A dignidade e a vida das pessoas devem ser respeitadas", disse.
As informações coletadas pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU indicam que as operações aéreas israelenses também atingiram grandes torres residenciais na Cidade de Gaza e outros edifícios residenciais em Gaza, escolas e instalações da agência de assistência e trabalho da ONU, UNRWA, resultando em vítimas civis.
"O direito humanitário internacional é claro: a obrigação de tomar cuidado constante para poupar a população civil e os objetos civis permanece aplicável durante os ataques", disse Türk. Para ele, os princípios de distinção e a proibição de ataques indiscriminados ou desproporcionais são fundamentais.
O cerco, segundo ele, "corre o risco de agravar seriamente a já terrível situação humanitária e de direitos humanos em Gaza, incluindo a capacidade de funcionamento das instalações médicas, especialmente em função do número crescente de feridos".
"A imposição de cercos que colocam em risco a vida de civis, privando-os de bens essenciais para sua sobrevivência, é proibida pelo direito humanitário internacional", disse o alto comissário. Quaisquer restrições ao movimento de pessoas e bens para implementar um cerco devem ser justificadas por necessidade militar ou podem, de outra forma, equivaler a punição coletiva.
O chefe dos direitos humanos expressou profunda preocupação com a forma como o discurso de ódio e o incitamento à violência aumentaram desde sábado, alimentando o antissemitismo e a islamofobia na região e no mundo. "Sabemos, por amarga experiência, que a vingança não é a resposta e, em última análise, civis inocentes pagam o preço", disse Türk.
"O mundo não pode se permitir mais polarização. Precisamos encontrar soluções guiadas pelo total respeito à lei humanitária internacional e à lei internacional de direitos humanos."
UOL