O reajuste da gasolina e do diesel pela Petrobras nas refinarias vai encarecer os combustíveis nos postos nas próximas semanas. A gasolina deve ficar cerca de 6% mais cara na bomba, em um movimento de alta que pressiona a inflação deste ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) agora deve fechar 2023 em 5% — acima do teto da meta de inflação, que é 4,75%.
É o que apontam as contas de Andréa Angelo, estrategista de inflação Warren Rena. Segundo a economista, estima-se que um reajuste de 16,3% da gasolina nas refinarias (ou aumento de R$ 0,41 por litro) se traduza em uma alta de 6,32% na bomba dos postos de combustível do país.
Já o economista André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), estima que o aumento do preço da gasolina nas refinarias deve levar a uma alta de 5,4% nas bombas.
Inflação de 5% em 2023
A alta tende a pressionar a inflação nos próximos meses e no acumulado do ano. Braz diz que a gasolina deve contribuir para um aumento de 0,13% na inflação de agosto e de mais 0,13% em setembro, já que o reajuste foi anunciado na metade do mês.
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O diesel representa uma parcela bem menor no orçamento familiar e deve levar a um aumento de apenas 0,01% em cada um dos dois meses. Isso fez com que o economista mudasse o patamar esperado para o IPCA de agosto, que era de uma deflação de 0,15% e passou para uma inflação de 0,10%.
— Considerando o ano de 2023, prevíamos uma inflação de 4,7% e agora a taxa deve se aproximar de 5%. Aumentou a chance de termos uma inflação fora da meta, que é de 3,25%, com intervalo de 1,5% para mais ou menos.Ou seja, de até 4,75% — diz Braz.
A Órama Investimentos estima que a inflação deve subir 0,13% em agosto e mais 0,13% em setembro. Isso deve fazer com que o IPCA feche em 0,36% este mês e em 0,57% no próximo. Para o ano, a projeção subiu de 4,8% para 5,1%.
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A estimativa da Warren Rena para o IPCA de agosto passou de 0,2% para 0,3%. Já a estimativa do mês de setembro subiu de 0,4% para 0,68%, considerando que o reajuste já deverá ter sido totalmente repassado pelos postos no mês que vem.
Levando em consideração a gasolina, o etanol e o diesel, o efeito do reajuste se traduz em uma alta de 0,38 ponto percentual na inflação anual, segundo a consultoria. “Com isso a projeção do ano 2023 que estava em 4,6% fica em 5%”, informou Angelo. O número leva a crer que o IPCA vai encerrar o ano acima do teto da meta, que é 4,75%.
Desconfiança menor sobre política de preços
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, avalia que a decisão da Petrobras em reajustar o preço dos combustíveis acompanha as expectativas de analistas, que aguardavam uma solução para a defasagem dos preços praticados no Brasil em relação ao mercado internacional
Ele pontua que a Petrobras é autossuficiente na produção de petróleo, mas ainda depende de insumos importados para as suas refinarias funcionarem e boa parte deles são precificados em dólar
— Movimentos de alta no petróleo acabaram tornando essa conta mais complexa para a Petrobras segurar, com redução da margem de lucro para a empresa — diz.
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) já alertava sobre o problema. Dados da entidade prevêem que, embora a diferença de preços tenha diminuído, a gasolina continua 21,6% mais barata no Brasil que no exterior.
Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados, conta que a defasagem entre os preços internacionais dos combustíveis e os preços praticados no Brasil estava deixando o mercado “desconfortável” com a política da Petrobras. Para o analista, a recomposição ameniza parte das dúvidas.
— O governo percebeu que não ajustar causaria desabastecimento. Mas precisamos acompanhar o preço do petróleo. Há risco de que o petróleo suba nos próximos meses por conta de eventual corte na produção — diz.
Impacto na Selic
Vale explica que esse cenário contempla novas altas no preço dos combustíveis, com impacto na inflação. Para ele, esse movimento reforça a ideia de reduzir o valor da Selic (atualmente em 13,25% ao ano) com cautela, mas o economista mantém a previsão de corte de 0,5% como mais provável, afastando por ora chances de cortes de 0,75%.
— A inflação ainda inspira cuidados e o ideal era que o Banco Central descartasse queda de 0,75 % nas próximas reuniões e fosse mais cauteloso.
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) já alertava sobre o problema. Dados da entidade prevêem que, embora a diferença de preços tenha diminuído, a gasolina continua 21,6% mais barata no Brasil que no exterior.
Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados, conta que a defasagem entre os preços internacionais dos combustíveis e os preços praticados no Brasil estava deixando o mercado “desconfortável” com a política da Petrobras. Para o analista, a recomposição ameniza parte das dúvidas.
— O governo percebeu que não ajustar causaria desabastecimento. Mas precisamos acompanhar o preço do petróleo. Há risco de que o petróleo suba nos próximos meses por conta de eventual corte na produção — diz.
Impacto na Selic
Vale explica que esse cenário contempla novas altas no preço dos combustíveis, com impacto na inflação. Para ele, esse movimento reforça a ideia de reduzir o valor da Selic (atualmente em 13,25% ao ano) com cautela, mas o economista mantém a previsão de corte de 0,5% como mais provável, afastando por ora chances de cortes de 0,75%.
— A inflação ainda inspira cuidados e o ideal era que o Banco Central descartasse queda de 0,75 % nas próximas reuniões e fosse mais cauteloso.
Fonte: O globo