A professora Gleice Jane (PT) assume, nos próximos dias, o mandato como deputada estadual em Mato Grosso do Sul. A situação não é das mais confortáveis, porque substituirá um colega que faleceu, deputado Amarildo Cruz (PT). Isso faz, inclusive, com que a futura deputada aguarde um tempo de luto até se pronunciar sobre a nova missão.
O que se sabe sobre a futura deputada é que as questões sociais, tão defendidas por Amarildo Cruz durante sua história política, de quase 40 anos de filiação ao PT, não serão deixadas de lado. Gleice também é militante e definida como extremamente corajosa e que não foge da luta contra injustiças sociais.
Professora, ela começou a militância no movimento estudantil e aceitando desafios, segundo ela mesmo define, quando colocados como projeto coletivo. A política passou a fazer parte da vida de Gleice, militante no movimento de mulheres.
“Ser mulher no espaço da política não é tão fácil. É muito mais difícil do que para os homens. Desde o início da minha caminhada eu percebo isso. Para gente ser ouvida, as vezes a gente tem que falar mais alto. A gente tem que estudar muito mais, se dedicar muito mais. Esta é uma realidade política, mas também em todos espaços do trabalho onde as mulheres querem ocupar um lugar de poder, seja em uma empresa, seja em qualquer espaço. Então, é um desafio muito grande para nós, mulheres, estar nestes espaços de decisão. Agora é muito mais difícil para nós mulheres, que estamos na luta por outras mulheres”, afirma em rede social.
Na campanha para deputada, Gleice destacou a pouca representatividade feminina, lembrando que em 2018 nenhuma mulher havia sido eleita. “Como nós vamos ter políticas públicas para mulheres, pensada para mulheres, se a gente não ocupa esses espaços?”, indagou a professora, que já foi presidente do Sindicato de Professores de Dourados.
Gleice fez campanha defendendo a luta por mudança e igualdade entre as pessoas. “É por acreditar que o estado pode ser melhor, que em Mato Grosso do Sul é possível garantir igualdade para pessoas. Nós temos aqui uma população indígena, população negra, juventude, pessoas idosas que precisa também um estado que atenda a elas. Por pensar em igualdade das pessoas, que estou candidata a deputada estadual. Não estou sozinha. Eu estou junto com essas pessoas que acreditam nisso também. Estas pessoas que querem esta mudança estão neste projeto com a gente. Acho que a gente pode vencer, a gente pode mudar”, dizia durante a campanha.
PT na base
Gleice chega na Assembleia com algumas questões definidas pela bancada estadual, que além de Amarildo, tem Zeca do PT e Pedro Kemp (PT). Ela, portanto, não participou de todo diálogo para integrar a base de sustentação de Eduardo Riedel (PSDB) na Assembleia Legislativa e não tem compromisso de discurso mais moderado em relação ao Governo do Estado.
A nova deputada deve se reunir com a bancada para tomar conhecimento da situação, embora o PT já esteja ocupando oito subsecretarias na gestão de Riedel, incluindo a ligada a direitos humanos e público citado por ela na campanha. Caberá a Zeca e Kemp, inclusive, levar a colega até o governador para “acertar os ponteiros”, já que ela não indicou, pelo menos até onde se sabe, nenhum cargo em Mato Grosso do Sul.
Sindicalista, ela está acostumada a brigar de maneira mais contundente por aquilo que acredita e deve fazer jogo duro, por exemplo, contra discursos da ala mais bolsonarista, hoje liderada por João Henrique Catan (PL) e Rafael Tavares (PRTB). Atualmente, os deputados têm ignorado embates nesta linha, mas Gleice sinaliza ser do tipo que não deixa a oportunidade passar. A Assembleia, inclusive, passa por um período de sessões mais tranquilas, com raros embates, já que a maioria, 22 dos 24, são da base de Eduardo Riedel.
Gleice foi a quinta mais votada na última eleição para vereador em Dourados e inicia a vida pública como deputada, o que pode render muitos embates até conhecer o andamento do legislativo. Liderança nova no partido, ela era uma das indicadas para cargo federal no governo Lula, onde assumiria a superintendência do Ibama. Com Gleice, a Assembleia passa a ter três mulheres. Ela terá como companheiras de trabalho Lia Nogueira (PSDB), também de Dourados, e Mara Caseiro (PSDB).